Google precisou da indignação das redes sociais para remover jogo que escravizava e torturava pessoas pretas.
A empresa desenvolvedora parece não ter sofrido nenhum tipo de penalidade pela empresa, uma vez que outros jogos da Magnus Games continuam ativos na Play Store.
A Magnum Games, produtora responsável pelo “Simulador de Escravidão”, um jogo que foi, recentemente, excluído da Play Store, e os usuários que baixaram o app e fizeram análises, com comentários racistas e discriminatórios, serão alvos de uma investigação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP). O game, que simulava um mundo onde o jogador era um “proprietário” de escravos negros, com poder de torturá-los, foi baixado por mais de mil pessoas e, nos comentários, algumas reclamavam de poucas possibilidades de agressão disponíveis. Nesta semana, a ONG Educafro entrou na Justiça com uma ação civil pública contra o Google cobrando R$ 100 milhões de indenização pelo fato de o aplicativo ter sido disponibilizado na loja de apps de celular.
A escravidão como “entretenimento” rendia dinheiro à big tech e também aos desenvolvedores, uma vez que o jogo era repleto de anúncios, mediados pelo Google, que repassava parte do valor aos criadores. Em um momento em que muito se fala sobre o PL das Fake News, o app viola as políticas da própria plataforma, afinal, além de ficar disponível por mais de um mês, tinha classificação livre e poderia ser jogado por crianças de seis anos. Deives Rezende Filho, especialista em ética, diversidade, equidade e inclusão, ao se deparar com casos de racismo, a companhia pode ficar em cima do muro.
“É evidente que houve falha por parte do Google, afinal, o jogo foi ao ar. E se ninguém tivesse chamado a atenção para o jogo que estava disponível desde o dia 24 de abril e foi retirado somente no dia 24 de maio após grande repercussão? A sociedade não aguenta mais essa violência sistêmica, alimentada pelos racismos estrutural, institucional e individual, “amenizado” por doações e ações pontuais. O problema é sistêmico e a resposta também precisa ser. Para isso, as empresas precisam sair de sua zona de conforto e promover reais mudanças”, diz Rezende, que também é CEO da Condurú Consultoria.
A deputada estadual gaúcha Laura Sito (PT-RS), foi uma das pessoas que denunciou o jogo na plataforma, recebeu uma ameaça de morte feita por um usuário do “Simulador de Escravidão”. Por e-mail, o usuário afirma que “estava adorando” jogar o “simulador de escravidão” em seu tablet. “Desde 1888, os negros deste país não tiveram sequer a chance de almejar as mesmas oportunidades, mesma faixa salarial e, principalmente, o mesmo direito pela vida. São inúmeras as camadas quando se fala sobre raça no Brasil, em que muitos ainda crêem no mito da democracia racial. Com o aumento dos debates sobre DE&I, diversas empresas criam políticas dentro da organização. Mas quantas investem, de fato, em treinamentos de equipe, letramento racial, ampliação de oportunidades em gerência e C-Level e em códigos de conduta com tolerância zero para tais tipos de discriminações? Quantos funcionários e funcionárias foram responsabilizados por falas e atitudes racistas?”, questiona o especialista.